quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Conectivismo - Uma Teoria da Aprendizagem na Idade Digital

Fruto da influência e da utilização cada vez mais banal das novas tecnologias, que disponibilizam não só bases de dados e informações infindáveis, mas também um sem número de possibilidades de contactos com outros utilizadores, em rede sociais virtuais, através de fóruns, emails, etc, a aprendizagem deixa de ser vista como um processo construído apenas pelo indivíduo e pela sua própria experiência, e passa a abranger também os contactos, as conexões do indivíduo com outros e com o seu contexto de aprendizagem. Isto porque, não podendo assimilar todos os conhecimentos, no momento que necessitamos, podemos recorrer aos conhecimentos daqueles com quem nos conectamos ou nos relacionamos, ou vice-versa, como se fossem repositórios de conhecimentos uns dos outros, a que se pode aceder.

“A mobilidade dos aprendentes (por diferentes áreas), o crescente impacto da aprendizagem informal (não se limita à escola mas estende-se à comunidade e redes pessoais), a aprendizagem como processo contínuo levam a que “saber como” e o “saber o quê” sejam suplantados pelo “saber onde” – o conhecimento de onde se encontra o conhecimento de que se precisa."

“A experiência tem sido considerada, há muito tempo, o melhor professor para o conhecimento. Desde que não podemos experimentar tudo, as experiências de outras pessoas e portanto, outras pessoas, tornam-se o substituto para o conhecimento. «Eu guardo o meu conhecimento em meus amigos» é um axioma para juntar conhecimento juntando pessoas”.

Segundo o conectivismo, a aprendizagem é um processo que ocorre num ambiente onde os elementos centrais estão em mudança – a aprendizagem pode residir fora de nós mesmos e as conexões que nos capacitam aprender mais são mais importantes que o nosso actual estado de conhecimento.

“Georges Siemens destaca a mudança da relação da pessoa com o conhecimento. Em grande número de casos, não é mais possível ter, antecipadamente, todo o conhecimento de que se necessita para resolver um problema pontual; é preciso saber onde o conhecimento adicional está e ir buscá-lo. Nesse quadro, o que importa para a pessoa é sua rede de conexões com os nós de conhecimento.”
Portanto, além de obtermos conhecimentos e adquirirmos competências, para o sucesso do processo de aprendizagem é ainda mais importante estarmos conectados com fontes de informação, que podem ser pessoas, conteúdos de aprendizagem ou bases de pesquisa e ainda desenvolvermos a apetência e capacidade de busca, procura, pesquisa e selecção da informação. Ter conexões e fontes de informação disponíveis economiza a nossa capacidade de acumulação conhecimentos, ou seja, a nossa memória, mas exige capacidade auto-organização, não só para procurar e encontrar a fonte ou conexão certa e o conhecimento desejado.

”Ou seja: para aprender é necessário ter a capacidade de formar conexões entre fontes de informação e daí criar padrões de informação úteis."

Isto significa, portanto, que a aprendizagem é um processo contínuo e não controlado pelo indivíduo, já que as conexões disponíveis e o próprio indivíduo estão em mudança constante; este pode apenas empenhar-se em concretizá-la, por focalizar e organizar a sua busca ou pesquisa e seleccionar e organizar os conhecimentos que necessita. /span>

“A aprendizagem é um processo que ocorre dentro de ambientes nebulosos onde os elementos centrais estão em mudança – não inteiramente sob o controle das pessoas. A aprendizagem (definida como conhecimento accionável) pode residir fora de nós mesmos (dentro de uma organização ou base de dados), é focada em conectar conjuntos de informações especializados, e as conexões que nos capacitam a aprender mais são mais importantes que nosso estado actual de conhecimento.”

A chave do sucesso da aprendizagem são boas conexões, já que pessoas bem conectadas são capazes de estimular e manter o fluxo do conhecimento, de modo que o conhecimento parte do indivíduo para a rede e da rede para o indivíduo, que por sua vez alimenta novamente a rede e esta continua a prover conhecimento para o indivíduo, através de um ciclo de conhecimento que permite a actualização constante de conhecimentos.

Assim sendo, a nossa habilidade em aprender aquilo que precisamos para amanhã é mais importante do que aquilo que sabemos hoje, de modo que é importante pensarmos se têm que ser desenvolvidas novas metacompetências em todos os níveis da aprendizagem, tais como:

“- a competência de analisar e avaliar a credibilidade das informações obtidas na rede, seja esta baseada em computadores, comunidades de prática ou em cadernos de endereços
– a competência de criar ambientes que facilitem a aprendizagem informal que é mais corrente que aaprendizagem formal
– a competência de formar redes pessoais para fazer com que a experiência individual total seja a soma de experiência individual propriamente dita com a experiência daqueles com os quais o indivíduo está conectado
– a competência de aproveitar com o fato de que a aprendizagem é um processo contínuo que se estende por toda a vida – a competência de estabelecer conexões entre idéias, conceitos e campos do conhecimento de forma tal que a informação obtida num nó da rede possa ser aplicada em outro contexto (transferência de conhecimento)
– a competência de escolher o que aprender.”


“Princípios do conectivismo:
• Aprendizagem e conhecimento apoiam-se na diversidade de opiniões.
• Aprendizagem é um processo de conectar nós especializados ou fontes de informação.
• Aprendizagem pode residir em dispositivos não humanos.
• A capacidade de saber mais é mais crítica do que aquilo que é conhecido atualmente.
• É necessário cultivar e manter conexões para facilitar a aprendizagem contínua.
• A habilidade de enxergar conexões entre áreas, idéias e conceitos é uma habilidade fundamental.
• Atualização (“currency” – conhecimento acurado e em dia) é a intenção de todas as atividades de aprendizagem conectivistas.
• A tomada de decisão é, por si só, um processo de aprendizagem. Escolher o que aprender e o significado das informações que chegam é enxergar através das lentes de uma realidade em mudança. Apesar de haver uma resposta certa agora, ela pode ser errada amanhã devido a mudanças nas condições que cercam a informação e que afetam a decisão.”


“O conectivismo apresenta um modelo de aprendizagem que reconhece as mudanças tectônicas na sociedade, onde a aprendizagem não é mais uma actividade interna, individualista. O modo como a pessoa trabalha e funciona são alterados quando se utilizam novas ferramentas. O campo da educação tem sido lento em reconhecer, tanto o impacto das novas ferramentas de aprendizagem como as mudanças ambientais na qual tem significado aprender. O conectivismo fornece uma percepção das habilidades e tarefas de aprendizagem necessárias para os aprendizes florescerem na era digital.”

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Trabalho 1 - Síntese de artigos científicos

“E-LEARNING: REFLEXÕES EM TORNO DO CONCEITO" (AUTOR: MARIA JOÃO GOMES)


(Síntese realizada por Adelaide Galo, Belmira Pereira e Daniela Adrêgo)


Neste artigo, Maria José Gomes propõe uma clarificação do termo “e-learning”, por comparação e diferenciação com outros contextos e expressões a ele associados, como “Educação a Distância”, ao posicionar correctamente a importância da tecnologia nessa modalidade de ensino. Procura colmatar alguma falta de clareza e desvios à volta do conceito de “e-learning” e salienta que este corresponde a uma nova realidade com contexto, objectivos e formas de exploração próprias, ainda que se sobreponha, em alguns aspectos, às realidades existentes de ensino que recorrem às TIC.

Para tal, e ressalvando a importância de contextualizar as definições no domínio da educação para um maior rigor, considera-se a existência de diferentes tipos de definições, as “definições científicas” e as “definições gerais” (Israel Scheffer, referenciado por Keegan 1996: 39-40).
“Definições científicas” são aquelas que se baseiam em conhecimento específico, de forma a construir uma rede teórica que sustente todo a informação e factos associados à mesma.
As “definições gerais”, onde a autora insere a definição de “e-learning”, enquadram-se no pressuposto de que um determinado termo deve ser entendido de determinada forma num contexto de debate, podendo estas ser estipulativas (um determinado termo deve ser considerado equivalente a outro, dentro do mesmo contexto), descritivas (uma convenção de uso no âmbito de um debate, mas também define o termo, clarificando outros usos do mesmo) e programáticas (a qual procura incluir outros termos ou ideias dentro do conceito em causa e/ou excluir outros que anteriormente foram englobados no mesmo).

Neste intuito de balizar conceitos, começa-se por enquadrar a utilização das TIC na educação e, mais especificamente, na educação a distância e no e-learning.

Na educação, é de referir que a utilização das TIC assume grande importância, de modo mais comum em sala de aula, como suporte às exposições do professor, sendo este ambiente designado pela autora como “ensino presencial com recurso a tecnologias”. A utilização das TIC também pode ser contextualizada em espaços e momentos de auto-estudo, com recurso a suportes de áudio e vídeo, assim como também na difusão on-line de programas, sumários de aulas, apresentações electrónicas feitas em sala de aula, acesso a fóruns de discussão, sendo considerada esta última situação como uma “extensão virtual da sala de aula presencial”.

Mesmo na educação a distância, as tecnologias têm um papel significativo, mas o conceito de “e-learning” não se reduz apenas na utilização destes recursos para difusão de conteúdos pedagógicos. Isto é, não será a utilização de tecnologia, como o recurso a CDRom ou outros suportes digitais, ou a utilização de tecnologia e serviços associados à Internet, o que faz de uma situação de ensino/aprendizagem uma situação de e-learning, como é advogado pelas teorias que definem “e-learning” com base no elemento “electrónico”, o “E”, em vez de no elemento “Learning”.

A autora admite considerar o e-learning uma modalidade de ensino a distância cooperativo, interactivo, colaborativo, tendo em conta a evolução da educação a distância, desde o ensino por correspondência, onde os documentos impressos eram o meio utilizado para distribuir conteúdos através de correio postal, até aos nossos dias, em que os conteúdos são distribuídos em redes telemáticas (Internet) e se utilizam serviços que permitem comunicação síncrona ou assíncrona, individual ou em grupo (como o correio electrónico, chats, fóruns de discussão, áudio e vídeo-conferência).
No entanto, ressalva que é redutor perspectivá-lo apenas e só como uma modalidade de ensino a distância. Isto porque há situações de e-learning que não entram no âmbito de uma situação de educação a distância, como o apoio tutorial online, cuja complementaridade terá mais ou menos peso conforme o carácter presencial possa ser maior ou menor. Neste contexto enquadram-se os modelos de formação mistos, com um componente de formação online e um componente presencial, designados de “blended-learning”.

Assim também, o e-learning pode ser considerado um modelo de formação a distância, mas não é sinónimo deste por, numa perspectiva inversa, existirem, como parece mais evidente, muitos cenários de ensino a distância que não cabem dentro do conceito de e-learning, pelo que não podemos afirmar que este conceito é mais amplo que o de educação a distância.

O crescente desenvolvimento tecnológico e, consequentemente, o progresso da sociedade implicam a necessidade de elaboração de sistemas mais complexos de ensino, para acompanhamento das exigências do mundo moderno. Sendo assim, o indivíduo terá que fazer várias actualizações ao longo da sua vida, mas em contrapartida dispõe de cada vez menos tempo para métodos formais de ensino.

É neste contexto que a educação a distância e o e-learning assumem um papel de destaque para o desenvolvimento e consolidação de conhecimentos do indivíduo e para que seja possível a ultrapassagem de eventuais constrangimentos ou obstáculos no tempo e espaço disponíveis.

A mais-valia do e-learning prender-se-á com as possibilidades geradas pelo uso da Internet e dos serviços www, decorrentes da sua facilidade de acesso, rapidez, diversidade e possibilidade de colaboração, ou seja, pela facilidade de acesso à informação independentemente do momento temporal e espaço físico, pela rapidez publicação, distribuição e actualização de conteúdos, pela diversidade de ferramentas e serviços de comunicação e colaboração entre todos os intervenientes no processo de ensino-aprendizagem.

Assim, o e-learning é apresentado como uma modalidade de ensino tecnologicamente suportado pela Internet e serviços www, e que, pedagogicamente, centrando-se aqui a sua razão de existência, promove a interacção, síncrona e assíncrona, entre formador–formando e formando–formandos, numa aprendizagem colaborativa, na medida em que, não só os conteúdos disponibilizados são construídos especificamente para ambientes de aprendizagem em rede, como também as estratégias de trabalho adoptadas são pensadas para um ambiente colaborativo e cooperativo, o que constitui uma inovação no âmbito do ensino a distância.

Em conclusão, baseada nas ideias de Peterson, Morastica e Callahan (“What The “e” Is about”, 1999; citados em LeranFrame, 2000, “Facts Figures and Forces Behind e-Learning”), é salientado que o e-learning potencia a Exploração de grande quantidade de recursos disponíveis na Internet, a partilha de Experiências entre os participantes do processo, o Envolvimento associado à participação num espaço virtual, e o incentivo a uma atitude Empreendorista do formando, fomentado por uma relação Empática com a utilização da Internet como tecnologia de suporte.

Ao invés das abordagens que consideram o “E” de “e-learning” associado ao elemento electrónico, verifica-se que aquele se aproxima muito mais do “E” de “Extended Learning”, ao alargar (“extend”) uma experiência envolvente de aprendizagem dos alunos/empreendedores.